CVII. DA CONDIÇÃO HUMANA
Se variam na casca, idêntico é o miolo,
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.
CVIII. DA FALTA DE TROCO
Quase nunca ao mais alto dos talentos
Um prático sucesso corresponde:
Se só tens uma nota de quinhentos
Como conseguirás andar de bonde?
CIX. DA AMARGA SABEDORIA
Conhecer a si mesmo e aos outros... Ver ao mal
Com mais clareza.., á triste e doloroso dom!
E sofrer mais que todos, no final,
Sem o consolo de ter sido bom...
CX. DA MORTE
Um dia... pronto!.., me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer que me importa?... O diabo
É deixar de viver!
CXI. DA PRÓPRIA OBRA
Exalça o Remendão seu trabalho de esteta...
Mestre Alfaiate gaba o seu corte ao freguês...
Por que motivo só não pode o Poeta
Elogiar o que fez?
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
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