quinta-feira, agosto 31, 2006

A Noite

A Noite é uma enorme Esfinge de granito negro
Lá fora.
Eu acendo minha lâmpada de cabeceira.
Estou lendo Sherlock Holmes.
Mas, nos ventres, há fetos pensativos desenvolvendo-se...
E há cabelos que estão crescendo, lentamente, por debaixo da terra,
Junto com as raízes úmidas...
E há cânceres ... cânceres!... distendendo-se como lentos dedos...
Impossível, meu caro doutor Watson, seguir o fio desta sua confusa e deliciosa história.

A Noite amassa pavor nas entrelinhas.
É um grude espesso, obscuro...
Vontades de gritar claros nomes serenos,
PALLAS NAUSICAA ATHENA AI, mas os deuses se foram...
Só tu aí ficaste...
Só tu, do fundo da noite imensa, a agonizares eternamente na tua cruz!...


[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]

2 comentários:

{ * } disse...

Mario Quintana, sempre tão essencial!!!
Amo as poesias com as fotos.
Um abraço!

Anônimo disse...

adorei esse canto =]