sexta-feira, dezembro 23, 2005

terça-feira, dezembro 20, 2005

Leituras

- Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
- Mas eu estou só esperando que apareça O Significado do Significado do Significado.





......

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Quintana, por ele mesmo

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

[Texto escrito pelo poeta para a revista "Isto É" de 14/11/1984]

sexta-feira, dezembro 02, 2005

...

Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, naquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida...

segunda-feira, novembro 21, 2005

"Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas..."

quinta-feira, novembro 17, 2005

Voa um par de andorinhas, fazendo verão.
E vem uma vontade de rasgar velhas cartas,
velhos poemas, velhas contas recebidas.
Vontade de mudar de camisa,
por fora e por dentro... vontade...
Para quê esse pudor de certas palavras?
Vontade de amar, simplesmente.

[Sapato Florido, 1948]

domingo, novembro 06, 2005

Da calúnia




Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...


In: Espelho Mágico (1945)

sábado, novembro 05, 2005

O gato

O gato chega à porta do quarto onde escrevo.
Entrepara...hesita...avança...

Fita-me.
Fitamo-nos.

Olhos nos olhos...
Quase com terror!

Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
Que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

[Quintana]

quarta-feira, novembro 02, 2005

Jardim interior

Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
Onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.

O que mata um jardim
Não é mesmo alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim
É esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.

terça-feira, outubro 25, 2005

Da Paginação

Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-los de desenhos - gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas - que passarão também a fazer parte dos poemas...


[Mario Quintana]

...

segunda-feira, agosto 08, 2005

Do Caderno H

A Arte de Ler

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

sexta-feira, julho 29, 2005


    O papel está hoje com uma abominável falta de imaginação.
    Continua apenas, olhando-me: vazio, mais quadrado do que nunca.

quarta-feira, julho 20, 2005

I

      I


      Escrevo diante da janela aberta.
      Minha caneta é cor das venezianas:
      Verde!... E que leves, lindas filigranas
      Desenha o sol na página deserta!
      Não sei que paisagista doidivanas
      Mistura os tons... acerta... desacerta...
      Sempre em busca de nova descoberta,
      Vai colorindo as horas quotidianas...
      Jogos da luz dançando na folhagem!
      Do que eu ia escrever até me esqueço...
      Pra que pensar? Também sou da paisagem...
      Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
      E me transmuto... iriso-me... estremeço...
      Nos leves dedos que me vão pintando!


      [in: A Rua dos Cataventos]

sexta-feira, julho 15, 2005

No ano passado...

Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova. Por essas e por outras é que, nestas calçadas claras do ano bom:

Rechinam teus sapatos rua em fora.
Tão leve estou que já nem sombra tenho
E há tantos anos de tão longe venho
Que nem me lembro de mais nada agora!

Tinha um surrão todo de penas cheio
Um peso enorme para carregar!
Porém as penas, quando o vento veio,
Penas que eram... esvoaçaram no ar...

Todo de Deus me iluminei então,
Que os Doutores Sutis se escandalizem:
"Como é possível sem doutrinação?!"

Mas entendem-me o Céu e as criancinhas.
E ao ver-me assim, num poste as andorinhas:
"Olha! É o Idiota desta Aldeia!" dizem...
[Mario Quintana: Porta Giratória. São Paulo, Ed Globo, 3 edição, 1997]

...

quarta-feira, julho 13, 2005

A Coisa

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.

sexta-feira, julho 01, 2005

Os antigos retratos de parede



      Os antigos retratos de parede
      Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
      Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
      Porque eles nunca se desumanizaram de todo.
      Jamais te voltas para trás de repente.
      Não, não olhes agora!
      O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
      Sem fim e sem sentido.
      Dessas que a gente inventava para enganar a
      Solidão dos caminhos sem lua.

      [in: Esconderijos do Tempo]

domingo, junho 26, 2005

CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO



      Para Augusto Meyer

      Não quero a negra desnuda.
      Não quero o baú do morto.
      Eu quero o mapa das nuvens
      E um barco bem vagaroso.
      Ai esquinas esquecidas...
      Ai lampiões de fins de linha...
      Quem me abana das antigas
      Janelas de guilhotina?
      Que eu vou passando e passando,
      Como em busca de outros ares...
      Sempre de barco passando,
      Cantando os meus quintanares...
      No mesmo instante olvidando
      Tudo o de que te lembrares.


      [in: Canções]

terça-feira, junho 21, 2005

DA OBSERVAÇÃO





      Não te irrites, por mais que te fizerem...
      Estuda, a frio, o coração alheio.
      Farás, assim, do mal que eles te querem,
      Teu mais amável e sutil recreio...





      [Mario Quintana; Espelho Mágico]

quinta-feira, junho 16, 2005

O auto-retrato





      No retrato que me faço
      - traço a traço -

      às vezes me pinto nuvem,
      às vezes me pinto árvore...

      às vezes me pinto coisas
      de que nem há mais lembrança...

      ou coisas que não existem
      mas que um dia existirão...

      e, desta lida, em que busco
      - pouco a pouco -

      minha eterna semelhança,
      no final, que restará?

      Um desenho de criança...
      Corrigido por um louco!


      [in: Apontamentos de História Sobrenatural]

quarta-feira, junho 15, 2005

A Carta

Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.



[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]



segunda-feira, junho 13, 2005

CANÇÃO DE OUTONO

O outono toca realejo

No pátio da minha vida.

Velha canção, sempre a mesma,

Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?

Como é possível sabê-lo?

Um gozo incerto e dorido

de carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?

Colhe as horas, em suma...

mas os caminhos do Outono

Vão dar em parte alguma!

terça-feira, junho 07, 2005

Um poema como um gole d'água bebido no escuro.

Como um pobre animal palpitando ferido.

Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na

[floresta noturna.

Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição

[de poema.

Triste.

Solitário.

Único.

Ferido de mortal beleza.



[in: Melhores poemas. 10ª ed., São Paulo, Global, 1996]

sexta-feira, junho 03, 2005

Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.

quarta-feira, maio 25, 2005

DA OBSERVAÇÃO




Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...




[Mario Quintana; Espelho Mágico]




sexta-feira, maio 20, 2005

As Coisas

O encanto
sobrenatural
que há
nas coisas da Natureza!
No entanto, amiga,
se nelas algo te dá
encanto ou medo,
não me digas que seja feia
ou má,
é, acaso, singular...
E deixa-me dizer-te em segredo
um dos grandes segredos do mundo:
--- é simplesmente porque
não houve nunca quem lhes desse ao menos
um segundo
olhar!

segunda-feira, maio 09, 2005

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste

E belo, apenas da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos dá incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!


[in: A Cor do Invisível]

quinta-feira, maio 05, 2005

Ressalva

Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes.



[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

terça-feira, maio 03, 2005

Refinamentos

Escrever o palavrão pelo palavrão é a modalidade atual da antiga arte pela arte.



[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

domingo, maio 01, 2005

Dupla Delícia

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.

Mario Quintana


Educação

O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.




Fatalidade

O que mais enfurece o vento são esses poetas inverterados que o fazem rimar com lamento.

[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

segunda-feira, abril 18, 2005

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA

A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...

(Mario Quintana, claro!)

domingo, abril 17, 2005

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

[Mario Quintana]

sábado, abril 16, 2005

Leitura

Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.

Leitura 2

Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir -— até onde? - —uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

Lógica & Linguagem

Alguém já se lembrou de fazer um estudo sobre a estatística dos provérbios? Este, por exemplo: "Quem cospe para o céu, na cara lhe cai". Tal desarranjo sintático faria a antiga análise lógica perder de súbito a razão.

[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

sexta-feira, abril 15, 2005

Leituras

—Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
—Mas eu estou só esperando que apareça. O Significado do Significado do Significado.


Leituras 2

Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar . Que idéia foi essa do teu professor?
Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.

[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]

quinta-feira, abril 07, 2005

Se o Poeta Falar Num Gato

Se o poeta falar num gato, numa flor,

num vento que anda por descampados e desvios

e nunca chegou à cidade...

se falar numa esquina mal e mal iluminada...

numa antiga sacada... num jogo de dominó...

se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade...

se falar na mão decepada no meio de uma escada

de caracol...

Se não falar em nada

e disser simplesmente tralalá... Que importa?

Todos os poemas são de amor!

domingo, abril 03, 2005

A Lua de Babilônia

Numa esquina do Labirinto

às vezes

avista-se a Lua.

"Não! como é possível uma lua subterrânea?"



(Mas cada um diz baixinho:

Deus te abençoe, visão...)



[in: Esconderijos do Tempo]

quinta-feira, março 31, 2005

Noturno Citadino

Um cartaz luminoso ri no ar.

Ó noite, ó minha nega

toda acesa

de letreiros!... Pena

é que a gente saiba ler... Senão

tu serias de uma beleza única

inteiramente feita

para o amor dos nossos olhos.



[in: Esconderijos do Tempo]

A Canção do Mar

    Esse embalo das ondas

    clique para ampliarDas ondas do mar

    Não é um embalo

    Para te ninar...


    O mar é embalado

    Pelo afogado!


    O canto do vento

    Do vento no mar

    Não é um canto

    Para te ninar...


    São eles que tentam

    Que tentam falar!


    Tiveram um nome

    Tiveram um corpo

    Agora são vozes

    Do fundo do mar...


    Um dia viremos

    Vestidos de algas

    Os olhos mais verdes

    Que as ondas amargas


    Um dia viremos

    Com barcos e remos


    Um dia...


    Dorme, filhinha...

    São vozes, são vento, são nada...


    [in: Esconderijos do Tempo]

quarta-feira, março 30, 2005

Eu Fiz Um Poema

Eu fiz um poema belo

e alto

como um girassol de Van Gogh

como um copo de chope sobre o mármore

de um bar

que um raio de sol atravessa

eu fiz um poema belo como um vitral

claro como um adro...

Agora

não sei que chuva o escorreu

suas palavras estão apagadas

alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.

Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade mota.

O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...


Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?

Clique para ampliar a imagem
O despertador é um objeto abjeto

terça-feira, março 29, 2005

O silêncio

Há um grande silêncio que está sempre à escuta...

E a gente se poe a dizer inquietantemente qualquer coisa, qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até tua dúvida metafísica, Hamleto!

E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta...
e cala.

Mario Quintana
[Esconderijos do Tempo]

Auto-Leitura

A minha obsessão por sapatos e vacas
Diverte os amigos
Os inimigos
Os psicólogos
Creio que diverte também até as próprias vacas
- menos a Poesia!

[Mario Quintana]

segunda-feira, março 28, 2005

Evolução

Clique para ampliarTodas as noites o sono nos atira da beira de um cais

e ficamos repousando no fundo do mar.

O mar onde tudo recomeça...

Onde tudo se refaz...

Até que, um dia, nós criaremos asas.

E andaremos no ar como se anda em terra.


[in: Esconderijos do Tempo]

sábado, janeiro 15, 2005

O Poema

O Poema

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.


O Trágico Dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.


Palavra Escrita

Por vezes, quando estou escrevendo este cadernos, tenho um medo idiota de que saiam póstumos. Mas haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio.

Poema

Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...


Poesia & Lenço
E essa que enxugam as lágrimas em nossos poemas com defluxos em lenços... Oh! tenham paciência, velhinhas... A poesia não é uma coisa idiota: a poesia é uma coisa louca!

Poesia & Peito

Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.

[in: Caderno H, Editora Globo - Porto Alegre, 1973]