terça-feira, outubro 24, 2006

Ao longo das janelas mortas

Ao longo das janelas mortas
Meu passo bate as calçadas.
Que estranho bate!... Será
Que a minha perna é de pau?
Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrível!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o que,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...


[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]

Um comentário:

PopZen disse...

Olá,
Redescobri Quintana por causa de uma paixão.
Bom encontrar um espaço como este no mar de inutilidades que se tornou a internet.
Obrigado!