A Noite é uma enorme Esfinge de granito negro
Lá fora.
Eu acendo minha lâmpada de cabeceira.
Estou lendo Sherlock Holmes.
Mas, nos ventres, há fetos pensativos desenvolvendo-se...
E há cabelos que estão crescendo, lentamente, por debaixo da terra,
Junto com as raízes úmidas...
E há cânceres ... cânceres!... distendendo-se como lentos dedos...
Impossível, meu caro doutor Watson, seguir o fio desta sua confusa e deliciosa história.
A Noite amassa pavor nas entrelinhas.
É um grude espesso, obscuro...
Vontades de gritar claros nomes serenos,
PALLAS NAUSICAA ATHENA AI, mas os deuses se foram...
Só tu aí ficaste...
Só tu, do fundo da noite imensa, a agonizares eternamente na tua cruz!...
[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]
quinta-feira, agosto 31, 2006
sábado, agosto 26, 2006
O Milagre
segunda-feira, agosto 14, 2006
Cripta
Debaixo da mesa
A negrinha.
Assustada.
Assustada.
Na janela
A lua.
No relógio
O tempo.
No tempo
A casa.
E no porão da casa?
No porão da casa umas estranhas ex-criaturas com cabelos de
teia-de-aranha e os olhos sem luz sem luz e todas se
[esfarelando que nem mariposas ai todas se esfarelando mas
sempre se remexendo eternamente se remexendo como
[anêmonas fofas no fundo de um poço de um poço!
[esfarelando que nem mariposas ai todas se esfarelando mas
sempre se remexendo eternamente se remexendo como
[anêmonas fofas no fundo de um poço de um poço!
[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]
sexta-feira, agosto 11, 2006
De Repente
Olho-te espantado:
Tu és uma Estrela do Mar.
Um minério estranho.
Não sei...
No entanto,
O livro que eu lesse,
O livro na mão,
Era sempre teu seio!
Tu estavas no morno da grama,
Na polpa saborosa do pão...
Mas agora encheram-se de sombra os cântaros
E só o meu cavalo pasta na solidão.
[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]
Tu és uma Estrela do Mar.
Um minério estranho.
Não sei...
No entanto,
O livro que eu lesse,
O livro na mão,
Era sempre teu seio!
Tu estavas no morno da grama,
Na polpa saborosa do pão...
Mas agora encheram-se de sombra os cântaros
E só o meu cavalo pasta na solidão.
[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]
quarta-feira, agosto 09, 2006
Se eu fosse um padre
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
[Mario Quintana; "Nova Antologia Poética", 1998, pág. 105]
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
[Mario Quintana; "Nova Antologia Poética", 1998, pág. 105]
domingo, agosto 06, 2006
quarta-feira, agosto 02, 2006
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
- ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
[Mario Quintana; Nova Antologia Poética, 1998]
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
- ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
[Mario Quintana; Nova Antologia Poética, 1998]
terça-feira, agosto 01, 2006
Libertação
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