sábado, julho 15, 2006

Dos chatos...

O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo
ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa...
Me lembro que fiz um soneto inteiro - bem certinho, bem clássico e tudo - durante o assalto ao Quarto do Sétimo, isto é, quando um veterano de 30 me contava mais uma vez a sua participação nas glórias e perigos daquela investida.

As velhotas que nos contam seus achaques também são de grande inspiração poética.

Mas que fazer contra a amabilidade agressiva do chato solícito?
Aquele que insiste em pagar nossa passagem, nosso cafezinho, ou
quer levar-nos à força para um drinque, ou faz questão fechada de
nos emprestar um livro que não temos a mínima vontade de abrir...

Ah! ia-me esquecendo dos proselitistas de todas as religiões. Os
proselitistas amadores, que são os piores. Quanto aos sacerdotes
que conheço, registre-se em seu louvor que eles sempre me falam
de outras coisas. Ou me julgam um caso perdido ou um caso
garantido... Bem, qualquer que seja o caso, deixam-me em paz.

O que pode acontecer de mais chato no mundo é o chato que
se chateia a si mesmo, o autochato.

Para essa extrema contingência, descobri em tempo que a
última solução não é o suicídio. É escrever, desabafar para cima do
leitor, o qual, se me leu até aqui, a culpa é toda dele.

Há gente para tudo...


[Mario Quintana]

Um comentário:

segredar disse...

Ai, Mário Quintana...
Quanta sabedoria está contida em sua simplicidade!
O mundo precisa de quintanas para que se possa tornar até os chatos simpáticos.