sábado, junho 14, 2008

XXXVI. DA FALSIDADE

Foi tudo falso, o que ela disse?
Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!
Nem ela sabe que fingir meiguice
É o mais certo sinal de que te ama ainda...


XXXVII. DA CONTRADIÇÃO

Se te contradisseste e acusam-te.., sorri.
Pois nada houve, em realidade.
Teu pensamento é que chegou, por si,
Ao outro pólo da Verdade...


XXXVIII. DO PRAZER

Quanto mais leve tanto mais sutil
O prazer que das coisas nos provém.
Escusado é beber todo um barril
Para saber que gosto o vinho tem.


XXXIX. DO PRANTO

Não tentes consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?


XL. DO SABOR DAS COISAS

Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...

[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]

Nenhum comentário: